14
Jun
07

O que realmente é preciso…segundo Eduardo Prado Coelho

O texto que se segue foi publicado no Público por Eduardo Prado Coelho…Eu concordo com ele…

Precisa-se de matéria prima para construir um País

“…A crença geral anterior era de que Santana Lopes não servia, bem como
Cavaco, Durão e Guterres. Agora dizemos que Sócrates não serve. E o que vier
depois de Sócrates também não servirá para nada. Por isso começo a suspeitar
que o problema não está no trapalhão que foi Santana Lopes ou na farsa que é
o Sócrates. O problema está em nós. Nós como povo. Nós como matéria prima de
um país. Porque pertenço a um país onde a ESPERTEZA é a moeda sempre
valorizada, tanto ou mais do que o euro. Um país onde ficar rico da noite
para o dia é uma virtude mais apreciada do que formar uma família baseada em
valores e respeito aos demais. Pertenço a um país onde, lamentavelmente, os
jornais jamais poderão ser vendidos como em outros países, isto é, pondo
umas caixas nos passeios onde se paga por um só jornal E SE TIRA UM SÓ
JORNAL, DEIXANDO-SE OS DEMAIS ONDE ESTÃO. Pertenço ao país onde as EMPRESAS
PRIVADAS são fornecedoras particulares dos seus empregados pouco honestos,
que levam para casa, como se fosse correcto, folhas de papel, lápis,
canetas, clips e tudo o que possa ser útil para os trabalhos de escola dos
filhos … e para eles mesmos. Pertenço a um país onde as pessoas se sentem
espertas porque conseguiram comprar um descodificador falso da TV Cabo, onde
se frauda a declaração de IRS para não pagar ou pagar menos impostos.
Pertenço a um país onde a falta de pontualidade é um hábito.Onde os
directores das empresas não valorizam o capital humano. Onde há pouco
interesse pela ecologia, onde as pessoas atiram lixo nas ruas e depois
reclamam do governo por não limpar os esgotos. Onde pessoas se queixam que a
luz e a água são serviços caros. Onde não existe a cultura pela leitura
(onde os nossos jovens dizem que é “muito chato ter que ler”) e não há
consciência nem memória política, histórica nem económica. Onde nossos
políticos trabalham dois dias por semana para aprovar projectos e leis que
só servem para caçar os pobres, arreliar a classe média e beneficiar a
alguns. Pertenço a um país onde as cartas de condução e as declarações
médicas podem ser “compradas”, sem se fazer qualquer exame. Um país onde uma
pessoa de idade avançada, ou uma mulher com uma criança nos braços, ou um
inválido, fica em pé no autocarro, enquanto a pessoa que está sentada finge
que dorme para não dar-lhe o lugar. Um país no qual a prioridade de passagem
é para o carro e não para o peão. Um país onde fazemos muitas coisas
erradas, mas estamos sempre a criticar os nossos governantes. Quanto mais
analiso os defeitos de Santana Lopes e de Sócrates, melhor me sinto como
pessoa, apesar de que ainda ontem corrompi um guarda de trânsito para não
ser multado. Quanto mais digo o quanto o Cavaco é culpado, melhor sou eu
como português, apesar de que ainda hoje pela manhã explorei um cliente que
confiava em mim, o que me ajudou a pagar algumas dívidas. Não. Não. Não. Já
basta. Como “matéria prima” de um país, temos muitas coisas boas, mas falta
muito para sermos os homens e as mulheres que nosso país precisa. Esses
defeitos, essa “CHICO-ESPERTERTICE PORTUGUESA” congénita, essa desonestidade
em pequena escala, que depois cresce e evolui até converter-se em casos
escandalosos na política, essa falta de qualidade humana, mais do que
Santana, Guterres, Cavaco ou Sócrates, é que é real e honestamente ruim,
porque todos eles são portugueses como nós, ELEITOS POR NÓS. Nascidos aqui,
não em outra parte… Fico triste. Porque, ainda que Sócrates fosse embora
hoje mesmo, o próximo que o suceder terá que continuar trabalhando com a
mesma matéria prima defeituosa que, como povo, somos nós mesmos. E não
poderá fazer nada… Não tenho nenhuma garantia de que alguém possa fazer
melhor, mas enquanto alguém não sinalizar um caminho destinado a erradicar
primeiro os vícios que temos como povo, ninguém servirá. Nem serviu Santana,
nem serviu Guterres, não serviu Cavaco, e nem serve Sócrates, nem servirá o
que vier. Qual é a alternativa? Precisamos de mais um ditador, para que nos
faça cumprir a lei com a força e por meio do terror?  Aqui faz falta outra
coisa. E enquanto essa “outra coisa” não comece a surgir de baixo para cima,
ou de cima para baixo, ou do centro para os lados, ou como queiram,
seguiremos igualmente condenados, igualmente estancados….igualmente
abusados! É muito bom ser português. Mas quando essa portugalidade autóctone
começa a ser um empecilho às nossas possibilidades de desenvolvimento como
Nação, então tudo muda… Não esperemos acender uma vela a todos os santos,
a ver se nos mandam um messias. Nós temos que mudar. Um novo governante com
os mesmos portugueses nada poderá fazer. Está muito claro… Somos nós que
temos que mudar. Sim, creio que isto encaixa muito bem em tudo o que anda a
nos
acontecer: desculpamos a mediocridade de programas de televisão nefastos e
francamente tolerantes com o fracasso. É a indústria da desculpa e da
estupidez. Agora, depois desta mensagem, francamente decidi procurar o
responsável, não para castigá-lo, senão para exigir-lhe (sim,
exigir-lhe) que melhore seu comportamento e que não se faça de mouco, de
desentendido. Sim, decidi procurar o responsável e ESTOU SEGURO QUE O
ENCONTRAREI QUANDO ME OLHAR NO ESPELHO. AÍ ESTÁ. NÃO PRECISO PROCURÁ-LO EM
OUTRO LADO.

E você, o que pensa?…. MEDITE!

Filipe Mota Pires


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